quarta-feira, 27 de março de 2013

ENCONTROS ETERNOS




Um homem entra na recepção do consultório médico, cumprimenta as pessoas, dirige-se à recepcionista, apresenta a sua carteira do plano de saúde, a carteira de identidade e indaga sobre a consulta agendada, ao que recebe a resposta positiva e recebe a informação que deve aguardar o chamamento. Feito isto procura ele acomodar-se na única cadeira que estava desocupada ao lado de uma bela mulher que deveria ter aproximadamente 38 anos, cuja tez não era das mais reluzentes.
Apressou-se em pedir-lhe permissão para tomar o assento e, num gesto de cortesia, perguntou se estava tudo bem. Recebida a resposta o amistoso cavalheiro, que sabia iria esperar bastante tempo para ser atendido, procurou manter uma conversa despretensiosa de maneira a tornar a espera menos angustiante.  Até que fossem atendidos conversaram de tudo um pouco, a começar sobre os atrasos dos médicos com relação aos horários marcados. Claro que nunca falaram sobre os motivos pelos quais ali estavam, porque seria de extremo mau gosto ou de extrema falta de educação.
O tempo passava e lá estavam eles a cada quinze longos e esperados dias, pois, sem que percebessem estavam sentindo falta um do outro, das conversas sem compromisso, de comentários aleatórios, das risadas sobre coisas ridículas do cotidiano de qualquer um, enfim, o agendamento das consultadas, das voltas, dos tratamentos que pareciam acontecer de forma programada e isto era ótimo, até que um dia o também pálido cavalheiro não encontrou a sua companheira de espera. Claro que isto poderia acontecer a qualquer momento. Contudo, não custava nada perguntar a recepcionista por dona Mariana, este era o seu nome. Com um olhar preocupado a delicada atendente disse que achava melhor que ele perguntasse ao médico que era comum aos dois. Sem entender bem o porquê, concordou o senhor Álvaro, este era o nome dele, com a orientação da funcionária do consultório médico de oncologia.
Passados intermináveis quarenta minutos, o Álvaro ouve o seu nome ao fundo do corredor, pois chegara a hora de saber o porquê da ausência da Mariana. Não mais importava se o chamamento era para a sua consulta. Ao adentrar a sala do médico ele foi logo perguntando: e aí doutor, a recepcionista não quis dar-me notícia da sua paciente Mariana. O que está havendo?  Lamento dizer-lhe Álvaro, assim como você a Mariana tinha um câncer em estágio terminal e, neste espaço de tempo (vinte dias aproximadamente), ela teve uma crise muito forte e tivemos que submetê-la a um procedimento que estávamos adiando, pois conhecíamos os riscos e as poucas possibilidades de sucesso, o que efetivamente aconteceu e ela não suportou.  
Abalado, Álvaro não concluiu a sua consulta e, após insistentes pedidos à recepcionista, obteve o endereço da Mariana e partiu para lá. Sem saber a quem procurar, sem saber o que fazer, ele precisava encontrar alguém que pudesse dizer-lhe algo de concreto para que aqueles momentos, mesmo que dentro de uma recepção médica, não  se caracterizasse apenas como um sonho. Parado por algum tempo em frente à residência de Mariana e depois contabilizando cada passo até a porta da casa tocou a campainha. Depois de alguns momentos surge-lhe uma bela senhora cujos traços faciais não lhe negavam quem seria ela.  Uma eternidade aconteceu até que dona Marília o convidasse para entrar, mesmo sem o Álvaro ter se apresentado.  Com uma voz trêmula e cheia de emoção a amável anfitriã tirou do bolso do seu vestido um bilhete a ele endereçado.
Em estado emocional quase sem controle o Álvaro abre cuidadosamente aquele que seria o último meio de comunicação com a sua amada nunca declarada. E lá estava escrito: Prezado Álvaro, fico constrangida em não chamá-lo de querido logo de princípio, pois nós nunca nos declaramos. Mas, você foi a “coisa” mais importante que aconteceu nos meus últimos dias da minha vida. Obrigada por sua atenção, por seu carinho, suas brincadeiras, por nunca ter tratado do porque estarmos ali. Às vezes me imaginava louca, pois queria estar todos os dias no consultório. Como foi bom, em um momento tão ruim, você aproximar-se de mim! Como seria importante se todas as pessoas assim procedessem, umas com as outras, pois nunca sabemos o quanto estão precisando de um apoio, de uma palavra de carinho, de proximidade. Como não tive tempo de amá-lo como gostaria, ou seja, junto de você, vou continuar amando onde estiver.  Beijos, Mariana.
Ao terminar a leitura, Álvaro balbuciou: até breve meu amor! Estas palavras foram ouvidas por dona Marília que se levantou e o abraçou em lágrimas. Lágrimas estas com vários significados, pois aquela amizade que ali se iniciara em breve também seria interrompida.
Esta história nos remete a que: “O amor está disponível, a vida é breve e que devemos ser solidários”.