Um homem entra na recepção do
consultório médico, cumprimenta as pessoas, dirige-se à recepcionista,
apresenta a sua carteira do plano de saúde, a carteira de identidade e indaga
sobre a consulta agendada, ao que recebe a resposta positiva e recebe a
informação que deve aguardar o chamamento. Feito isto procura ele acomodar-se
na única cadeira que estava desocupada ao lado de uma bela mulher que deveria
ter aproximadamente 38 anos, cuja tez não era das mais reluzentes.
Apressou-se em pedir-lhe
permissão para tomar o assento e, num gesto de cortesia, perguntou se estava
tudo bem. Recebida a resposta o amistoso cavalheiro, que sabia iria esperar
bastante tempo para ser atendido, procurou manter uma conversa despretensiosa
de maneira a tornar a espera menos angustiante. Até que fossem atendidos conversaram de tudo
um pouco, a começar sobre os atrasos dos médicos com relação aos horários
marcados. Claro que nunca falaram sobre os motivos pelos quais ali estavam,
porque seria de extremo mau gosto ou de extrema falta de educação.
O tempo passava e lá estavam eles
a cada quinze longos e esperados dias, pois, sem que percebessem estavam
sentindo falta um do outro, das conversas sem compromisso, de comentários
aleatórios, das risadas sobre coisas ridículas do cotidiano de qualquer um,
enfim, o agendamento das consultadas, das voltas, dos tratamentos que pareciam
acontecer de forma programada e isto era ótimo, até que um dia o também pálido
cavalheiro não encontrou a sua companheira de espera. Claro que isto poderia
acontecer a qualquer momento. Contudo, não custava nada perguntar a
recepcionista por dona Mariana, este era o seu nome. Com um olhar preocupado a
delicada atendente disse que achava melhor que ele perguntasse ao médico que
era comum aos dois. Sem entender bem o porquê, concordou o senhor Álvaro, este
era o nome dele, com a orientação da funcionária do consultório médico de
oncologia.
Passados intermináveis quarenta
minutos, o Álvaro ouve o seu nome ao fundo do corredor, pois chegara a hora de
saber o porquê da ausência da Mariana. Não mais importava se o chamamento era
para a sua consulta. Ao adentrar a sala do médico ele foi logo perguntando: e
aí doutor, a recepcionista não quis dar-me notícia da sua paciente Mariana. O
que está havendo? Lamento dizer-lhe
Álvaro, assim como você a Mariana tinha um câncer em estágio terminal e, neste
espaço de tempo (vinte dias aproximadamente), ela teve uma crise muito forte e
tivemos que submetê-la a um procedimento que estávamos adiando, pois conhecíamos
os riscos e as poucas possibilidades de sucesso, o que efetivamente aconteceu e
ela não suportou.
Abalado, Álvaro não concluiu a
sua consulta e, após insistentes pedidos à recepcionista, obteve o endereço da
Mariana e partiu para lá. Sem saber a quem procurar, sem saber o que fazer, ele
precisava encontrar alguém que pudesse dizer-lhe algo de concreto para que
aqueles momentos, mesmo que dentro de uma recepção médica, não se caracterizasse apenas como um sonho. Parado
por algum tempo em frente à residência de Mariana e depois contabilizando cada
passo até a porta da casa tocou a campainha. Depois de alguns momentos
surge-lhe uma bela senhora cujos traços faciais não lhe negavam quem seria ela. Uma eternidade aconteceu até que dona Marília
o convidasse para entrar, mesmo sem o Álvaro ter se apresentado. Com uma voz trêmula e cheia de emoção a
amável anfitriã tirou do bolso do seu vestido um bilhete a ele endereçado.
Em estado emocional quase sem
controle o Álvaro abre cuidadosamente aquele que seria o último meio de
comunicação com a sua amada nunca declarada. E lá estava escrito: Prezado Álvaro, fico constrangida em não
chamá-lo de querido logo de princípio, pois nós nunca nos declaramos. Mas, você
foi a “coisa” mais importante que aconteceu nos meus últimos dias da minha
vida. Obrigada por sua atenção, por seu carinho, suas brincadeiras, por nunca
ter tratado do porque estarmos ali. Às vezes me imaginava louca, pois queria
estar todos os dias no consultório. Como foi bom, em um momento tão ruim, você
aproximar-se de mim! Como seria importante se todas as pessoas assim procedessem,
umas com as outras, pois nunca sabemos o quanto estão precisando de um apoio,
de uma palavra de carinho, de proximidade. Como não tive tempo de amá-lo como
gostaria, ou seja, junto de você, vou continuar amando onde estiver. Beijos, Mariana.
Ao terminar a leitura, Álvaro
balbuciou: até breve meu amor! Estas palavras foram ouvidas por dona Marília
que se levantou e o abraçou em lágrimas. Lágrimas estas com vários significados,
pois aquela amizade que ali se iniciara em breve também seria interrompida.
Esta história nos remete a que: “O amor está disponível, a vida é breve
e que devemos ser solidários”.