sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

SOCIEDADES SECRETAS



O título deste artigo induz a imaginar que tratarei da Maçonaria, Rosa Cruz, Seitas ou até da máfia! Não, não é nada disto. A sociedade a me referirei é invisível, mas sentida pelos atores que delas fazem parte e por seus educadores mais atentos. Estou me referindo aos meninos e meninas da periferia que estudam em escolas públicas que, “sem querer”, buscam satisfazer às necessidades daqueles que compartilham do mesmo ambiente, de maneira natural, com cooperatividade, cumplicidade até, de forma a que “todos saiam bem na foto”! Desculpem, mas o assunto me fez entrar no clima e utilizei o jargão tão utilizado pela “galera”.
Vou exemplificar para facilitar a compreensão.
Via de regra em todos os ambientes existem competições. E com essa turma não é diferente. Ocorre que se um colega ou um grupo da sala de aula vai concorrer com outros colegas ou grupos adversários, o coleguismo, a renúncia do pouco que cada um tem é oferecido para que o companheiro de classe saia vitorioso é impressionante.
O lanche, extra, quando trazido de casa, mesmo que em escassa quantidade, eles dividem entre si, às vezes até ficando com um saldo que, de fato, não vai satisfazer às necessidades de nenhum deles. Se o caderno de um acaba no meio da aula, voluntariamente o outro destaca diversas folhas do seu, vai à secretaria, grampea-as e as oferta ao colega. O que se destaca como importante é a “d i v i s ã o”, o partilhamento, pois cada qual sabe a dificuldade que todos têm para se obter o mínimo necessário.
Esta faceta me foi reportada por professoras do ensino público, quando abordávamos os excessos praticados pela classe mais abastada, em função da disputa em se ter o melhor celular, o melhor Ipod, tablet, blusão de marca, moto, carro, etc. Será que estes “têm tempo” para dividir algo com alguém, uma vez que estão ocupados em satisfazerem a si próprios?
O cerne da questão é a solidariedade despretensiosa, os valores implícitos em tais gestos, oriundos de pessoas cujos meios de sobrevivência, através dos pais, quando os têm, são absurdamente sacrificantes, são provenientes de quais fontes, em quais circunstâncias, de que maneira?
Como ainda não tenho a resposta, desejo que essas sociedades prosperem preservando o seu sábio e indecifrável aprendizado de maneira a tornarem as pessoas cada vez melhores.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

POR QUE ABANDONAMOS OS NOSSOS PAIS?



Quando invadimos a vida dos nossos pais somos recebidos como se fôssemos as melhores coisas deste mundo com as quais eles haviam sido agraciados. Somos amamentados, acarinhados, mimados, orientados, enfim, somos preparados para abandoná-los!
E como fazemos isto? Tão logo estejamos bem colocados profissionalmente procuramos ser independentes, vamos morar sozinhos e em poucas vezes “damos notícias”! Depois casamos e aí a coisa pega. É muita gente para dar atenção e, no final das contas, precisamos viver a nossa própria vida!
A pergunta é: aqueles que nos trouxeram ao mundo e nos preparou para ele devem ser esquecidos? Infelizmente é o que acontece na maioria das vezes. E o pior é que ocorre justamente quando um dos pais já “partiu desta para melhor” e o outro ficou só, na antiga moradia, vivendo apenas de lembranças. Se por opção o(a) viúvo(a) assim o preferir não significa dizer que queria ser esquecido(a). Ao contrário. Deve ser visitado constantemente, receber telefonemas, ser levado(a) a passear, enfim, ter uma vida digna, tão digna quanto aquela que proporcionou aos seus rebentos queridos.
A minha esposa foi proprietária de uma pousada geriátrica em que vi cenas de cortar o coração. Cito, em apenas um exemplo, que num determinado “dia das mães” uma delas preparara-se desde cedo para passar o “seu dia” com os seus filhos. À noite, quando lá retornei, a pobre criatura estava em depressão, pois, além de não buscá-la, tampouco lhe deram um telefonema! Não, nada acontecera que justificasse a atitude ou a falta dela. “O fato é que ela fora e s q u e c i d a”!!!
Pousadas e/ou clínicas geriátricas são locais onde colocamos os nossos entes queridos quando a solidão ou doença pode tornar-se perigosa para eles próprios. É uma questão de segurança, de preservação. NÃO É UM DEPÓSITO PARA SEREM ESQUECIDOS!
Ao contrário do título deste artigo, quero deixar firmada a idéia do “PORQUE NÃO DEVEMOS ABANDONAR OS NOSSOS PAIS”!
ORLANDO FAZIO

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

BANALIZAÇÃO DO OBSCENO



                                                  

Outro dia, em minha caminhada habitual no bairro onde moro, ao passar por três garotas que vinham em sentido contrário, cada uma com idade em torno de 15 anos, ouvi que uma delas havia terminado uma frase ao que uma outra acrescentou: “é, você sabe que ele vai ti fuder”, né?! É, respondeu a primeira.
Tendo em vista o rosto angelical da garota que proferiu o termo inusual em outros tempos, a colocação até pareceu pueril, embora, na minha leitura, chocante!
Em outra ocasião assisti a uma cena em que um indivíduo, que estava acompanhado da sua esposa e filhos menores, ao receber uma ligação através do seu celular, esqueceu da existência dos seus acompanhantes e das demais pessoas que estavam no mesmo ambiente que ele, um barzinho bastante popular, e travou em diálogo um tanto quanto pornofônico, digamos assim! Aquilo que chamávamos de “nomes feios” já não existe. Tudo é “muito natural”!
Não quero parecer anacrônico, mas creio que um diálogo com termos cordiais tornam a conversa mais atrativa, mais elegante! Conversar com alguém que só sabe se expressar de forma contundente, usando palavrões que em nada enriquecem o tema, em nada acrescenta ao seu convívio, não deve agradável.
E os gestos. Dar o dedo em sinal de desprezo, bater com uma mão na outra para expressar que “a coisa não está boa”, ou “que tudo vai pro brejo”, como quer supor a frase mencionada no primeiro parágrafo, e isto tudo diante dos pais! Aliás, será que é só na escola que as crianças aprendem essas lições?

ORLANDO FAZIO