O título deste artigo induz a imaginar que tratarei da
Maçonaria, Rosa Cruz, Seitas ou até da máfia! Não, não é nada disto. A
sociedade a me referirei é invisível, mas sentida pelos atores que delas fazem
parte e por seus educadores mais atentos. Estou me referindo aos meninos e
meninas da periferia que estudam em escolas públicas que, “sem querer”, buscam
satisfazer às necessidades daqueles que compartilham do mesmo ambiente, de
maneira natural, com cooperatividade, cumplicidade até, de forma a que “todos
saiam bem na foto”! Desculpem, mas o assunto me fez entrar no clima e utilizei
o jargão tão utilizado pela “galera”.
Vou exemplificar para facilitar a compreensão.
Via de regra em todos os ambientes existem competições. E com
essa turma não é diferente. Ocorre que se um colega ou um grupo da sala de aula
vai concorrer com outros colegas ou grupos adversários, o coleguismo, a
renúncia do pouco que cada um tem é oferecido para que o companheiro de classe
saia vitorioso é impressionante.
O lanche, extra, quando trazido de casa, mesmo que em escassa
quantidade, eles dividem entre si, às vezes até ficando com um saldo que, de
fato, não vai satisfazer às necessidades de nenhum deles. Se o caderno de um
acaba no meio da aula, voluntariamente o outro destaca diversas folhas do seu,
vai à secretaria, grampea-as e as oferta ao colega. O que se destaca como
importante é a “d i v i s ã o”, o partilhamento, pois cada qual sabe a
dificuldade que todos têm para se obter o mínimo necessário.
Esta faceta me foi reportada por professoras do ensino
público, quando abordávamos os excessos praticados pela classe mais abastada,
em função da disputa em se ter o melhor celular, o melhor Ipod, tablet, blusão
de marca, moto, carro, etc. Será que estes “têm tempo” para dividir algo com
alguém, uma vez que estão ocupados em satisfazerem a si próprios?
O cerne da questão é a solidariedade despretensiosa, os
valores implícitos em tais gestos, oriundos de pessoas cujos meios de
sobrevivência, através dos pais, quando os têm, são absurdamente sacrificantes,
são provenientes de quais fontes, em quais circunstâncias, de que maneira?
Como ainda não tenho a resposta, desejo que essas sociedades
prosperem preservando o seu sábio e indecifrável aprendizado de maneira a tornarem as pessoas cada vez melhores.